segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Árvore do Amor


O período é a chamada Revolução Cultural chinesa. A estudante Jing é filha de um preso político e, portanto, toda a sua família está sob vigilância. Jing, que faz de tudo para ser considerada confiável pelo Partido, se voluntaria para passar por um período de reeducação em meio aos camponeses. Lá ela conhece Sun, jovem rico e de família influente, e os dois se apaixonam. São tantos os impedimentos e convenções que eles vivem seu romance em segredo, mesmo porque diante das estritas e incoerentes regras da China de Mao qualquer passo em falso pode desonrar de vez a família da moça. Exibido na Mostra Geração do Festival de Berlim 2011.

Zhang Yimou é mesmo um cineasta formidável. No Festival do ano passado pudemos assistir ao tresloucado A Woman, a Gun and a Noodle Shop (uma mulher, uma arma e uma lojinha de macarrão), uma mistura deliciosa de western, artes marciais e trash que arrancava gargalhadas incessantes do início ao fim. Um filme over, colorido, totalmente pra cima. E agora Yimou nos apronta essa falseta. O cineasta de histórias visualmente deslumbrantes certamente pegará todo mundo de surpresa com esse romance 100% clássico, cheio de silêncios, desejos contidos, amores eternos e lágrimas, muitas lágrimas. A Árvore do Amor é um filme delicado, lindo e triste de cortar os pulsos. Um estilo de cinema antigo que, quando não feito com competência, pode ser um desastre. Não é o caso aqui.

Mesmo tendo os desmandos do comunismo como principal vilão da história, Yimou se abstém de fazer um filme político e usa a crítica social mais para contextualizar o universo de proibições sob o qual vivem os protagonistas. Jing e Sun querem tão pouco, mas a engrenagem na qual estão inseridos é rígida, inflexível, não cederá um milímetro. Não por acaso há um clima de vigilância que não se materializa em nenhum personagem específico, pois o “sistema” é algo maior, incorpóreo. Algo contra o qual não há defesa.

Foi preciso um tempinho para digerir o filme. Seu clima tenso e sua atmosfera claustrofóbica mexem pra valer com o coração da gente, podendo deixar o espectador confuso e meio deprimido ao término da projeção. E posso assegurar que não foi somente comigo. Todas as pessoas próximas a mim pareciam tristes e desorientadas quando as luzes se acenderam. O quanto um filme assim é bom? Acredito que tudo que toque de tal forma o emocional é muito bom sim, embora nem sempre agradável de ser sentido.

Resumindo? A Árvore de Amor eleva a fórmula do melodrama tradicional à categoria de biscoito fino.

A Árvore do Amor (Shanzha Shu Zhi Lian) de Zhang Yimou. Com Zhou Dongyu, Shawn Dou, Xi Meijuan, Li Xuejian, Cheng Taishen. China, 2010. 115 minutos. Panorama do Cinema Mundial

Cotação: 9,0

3 comentários:

  1. Eu admito que fiquei um pouco desapontado com o Yimou de "Uma Mulher, Uma Arma e Uma Loja de Macarrão". Por se tratar de uma história diferente da qual o chinês tem o costume de contar, temo que aqui também não haverá todo aquele impacto visual tão característico em sua filmografia - é o que pude deduzir ao ler a resenha. Ainda assim, assistirei na primeira oportunidade que surgir.

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  2. Eu gosto dessa capacidade dele de fazer (bem) coisas tão radicalmente diferentes. Esse aqui é puro sentimento.

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  3. Mesmo após 30m do término do filme, eu ainda estou com os olhos marejados e um aperto na garganta. É tão sublime, tão sensível, tão angustiante... Gostaria de comprá-lo para guardá-lo e assistir de novo e de novo,com meus filhos e netos.

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