terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Americano


Quando o parisiense Martin recebe a notícia da morte da mãe, é obrigado, a contragosto, a viajar para Los Angeles para cuidar das questões da herança. Chegando lá, perturba-se com as difusas lembranças da infância passada ali antes que o pai o levasse para viver definitivamente na França. Descobre, ainda, que não sabe muito bem quem foi sua mãe e fica ainda mais confuso quando encontra uma carta dela para a filha de uma antiga vizinha, Lola, dizendo que gostaria que ela ficasse com o seu apartamento. Martin fica sabendo que Lola agora vive em Tijuana, na fronteira com o México, e tem o impulso de ir atrás dela. Lola, não mais a menina de quem ele se lembrava brevemente, agora trabalha como stripper em um bar chamado Americano. Através de uma sucessão de erros e confusões, Martin se perde e, ao mesmo tempo, tenta se encontrar.

Depois de dirigir dois curtas, o ator Mathieu Demy (filho dos cineastas Agnès Varda e Jacques Demy) estreia na direção de longas-metragens com este intrigante filme parcialmente biográfico, no qual busca inspirações na própria infância e no tempo em que esteve em Los Angeles com a mãe para compor seu protagonista (interpretado por ele mesmo). Mathieu, também autor do roteiro, entrega um filme de muita personalidade, demonstrando bastante firmeza para um estreante. Outro dado interessante foi ele ter usado para os flashbacks de O Americano as imagens de Documenteur, longa de 1981 dirigido por sua mãe no qual ele atua como um garoto que vai viver nos Estados Unidos com a mãe recém-separada. Personagem que, aliás, se chama Martin Cooper, ou seja, trata-se da retomada de um personagem trinta anos depois.

Deixando de lado as informações extra-tela – que certamente tornam o filme mais rico para o espectador –, O Americano é um filme que tem seus altos e baixos. O mais complicado talvez seja a demora em atrair nosso interesse para o drama do protagonista. Martin é uma pessoa perdida, que tem sua vida mantida em suspenso na França por conta do que deixou mal-resolvido pelos Estados Unidos, mas a princípio ele parece apenas uma pessoa entediada que teve o contratempo de cuidar dos bens da mãe. Felizmente, o longa vai ganhando mais ritmo conforme se desenvolve e vamos descobrindo novas camadas por baixo daquele personagem aparentemente indiferente. Encontrar Lola passa a significar uma forma de resgatar o vínculo perdido com a mãe e tentar, de alguma forma, exorcizar os traumas que ele vinha mantendo ocultos até então. Nessa jornada, obviamente, ele descobrirá mais sobre ele mesmo do que poderia imaginar.

Mesmo tendo que contar com a suspensão da descrença por parte do espectador para justificar o excesso de ingenuidade ou imprudência de Martin em algumas de suas atitudes, O Americano é um filme que segue, aos poucos, conquistando o espectador. Principalmente pela sinceridade de seu desfecho, que evita o piegas e não tenta inventar soluções mágicas onde elas não caberiam. Um belo dèbut.  

O Americano (Americano), de Mathieu Demy. Com Mathieu Demy, Salma Hayek, Geraldine Chaplin, Chiara Mastroianni, Carlos Bardem. França, 2011. 105 minutos. Panorama do Cinema Mundial.

Cotação: 7,5

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