sábado, 1 de outubro de 2011

Para Sempre Silvio


Biografia não-autorizada de Silvio Berlusconi, magnata das telecomunicações e primeiro-ministro da Itália. Utilizando vasto material, como entrevistas em programas de TV, aparições públicas e narrações retiradas textualmente de discursos seus, o filme faz um retrato debochado e polêmico de um dos homens mais poderosos do mundo, usando para isso suas próprias declarações e contrapondo-as à opinião de outros líderes políticos e personalidades da mídia. Desde a origem obscura de sua fortuna até os escândalos sexuais, Silvio Forever (no original) não deixa pedra sobre pedra.

Muita gente por aí gosta de comparar o premier italiano a outro Silvio, o Santos, e defende que o dono do baú trilharia um caminho parecido caso resolvesse de fato se envolver com política. Afinal, ambos são empresários das telecomunicações com um perfil, digamos, popularesco. Esse documentário deixa claro, de uma vez por todas, que não cabe essa comparação. O nosso Silvio, o Santos, não é tão indecentemente poderoso e muito menos tão cara-de-pau quanto seu xará italiano.

Sempre me causou estranheza o modo como Silvio Berlusconi consegue estar sempre no poder. Se você conversar com qualquer italiano, ouvirá impropérios contra Berlusconi. Mas então quem o mantém lá, se todos parecem odiá-lo? Neste excelente documentário de Roberto Faenza e Filippo Macelloni podemos ter uma pequena amostra disso. Berlusconi, com sua oratória arrasadora e apelativa, certamente consegue sempre torcer os argumentos a seu favor perante o público mais ingênuo.

Sua desfaçatez em mentir, distorcer e usar a origem pobre como fator de solidariedade é de uma eficácia diabólica. Berlusconi tem o sangue-frio de fazer coisas como contar piadas tendo ele mesmo como personagem, numa manobra na qual usa o humor para se colocar em uma pretensa posição de camaradagem e assim quebrar o gelo, transformando aqueles que o acusam em meros “comunistas invejosos”. O mais impressionante é o fervor com que ele faz tipo de ultrajado e consegue reduzir a pó acusações realmente sérias. Conforme aponta um dos entrevistados, “ele tem uma visão particular da verdade. Verdade é aquilo que ele acredita que seja”.

Com uma pegada ao estilo Michael Moore, onde chamam atenção a montagem espertinha e o expediente de usar as próprias declarações da pessoa para expô-la ao ridículo, este pulsante documentário arranca risos perplexos da platéia ao mesmo tempo em que denuncia um conjunto de fatos que beira o inacreditável. O único problema do filme? Não é exatamente um defeito, mas uma constatação. Por se tratar de um documentário feito, em primeiro lugar, para consumo interno, quem não é italiano acaba boiando em relação a alguns episódios políticos (que, por lá, devem ser de conhecimento geral) e também um pouco em relação aos depoentes. Mas nada que prejudique o entendimento geral. Destaque para as performances de Dario Fo e Roberto Benigni – os dois são célebres por viverem pegando no pé de Berlusconi.

Para Sempre Silvio (Silvio Forever) de Roberto Faenza e Filippo Macelloni. Com Silvio Berlusconi, Rosa Bossi Berlusconi, Ugo Gregoretti, Roberto Benigni. Itália, 2011. 80 minutos. Foco Itália.

Cotação: 8,0

Nenhum comentário:

Postar um comentário