quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Os Crimes de Snowtown



Jamie vive com sua mãe e os irmãos em um subúrbio australiano violento. Depois de uma experiência traumática de abuso da parte de um vizinho, as coisas parecem tomar um rumo melhor quando a mãe começa a namorar o afetuoso John Bunting. Defensor ferrenho da justiça com as próprias mãos, Bunting logo consegue mobilizar um pequeno grupo para vigiar e punir os pedófilos da região. Jamie se identifica com o padrasto e seus ideais, mas não tarda muito para que ele comece a temer o radicalismo de John.  

O filme é baseado na história real do mais famoso serial killer da Austrália. O assunto poderia render um filme interessantíssimo, se não optasse pelo caminho do banho de sangue gratuito. Gratuito mesmo, pois o longa é feito de forma descuidada e não tem o mínimo cuidado em desenvolver mais a fundo um perfil psicológico do assassino ou o modo como ele conseguia fascinar as pessoas com sua oratória sobre a defesa das crianças do bairro. Outro ponto crucial que fica meio jogado na trama é a ampliação do raio de ação dos justiceiros, que começam caçando pedófilos e logo partem para fazer uma “limpeza” genérica e indiscriminada, eliminando todos que, de uma forma ou outra, ficam do caminho deles.

O roteiro foi escrito pelo diretor Justin Kurzel em parceria com Shaun Grant, a partir de uma história do próprio Kurzel. A falta de costura em diversas passagens acaba deixando evidente a autoria a quatro mãos – e duas cabeças não muito sintonizadas – uma vez que o roteiro não flui, mais parecendo que o diretor filmou uma série de cenas escritas em isolado. A passagem entre algumas sequências é brusca demais, não havendo cena de ligação entre elas; outras cenas, pelo contrário, não tem razão de ser e soam desconexas com o restante do filme. A impressão que fica é a de que o longa foi rodado direto a partir do argumento inicial, sem que tenha sido realmente desenvolvido um roteiro mais detalhado.

Espantoso que tenha sido exibido na Semana da Crítica de Cannes deste ano. Noves fora, se salva o bom elenco, com destaque para o novato Lucas Pittaway no papel de Jamie e Daniel Henshall, que consegue fazer de John um psicopata sem maneirismos exagerados.

Os Crimes de Snowtown (Snowtown), de Justin Kurzel. Com Lucas Pittaway, Daniel Henshall, Louise Harris, Frank Cwertniak, Matthew Howard. Austrália, 2010. 120 minutos. Expectativa.

Cotação: 4,0

Um comentário:

  1. Li informações sobre essa obra recentemente e nem imaginava que ela seria exibida no FestRio. Tenho interesse automático por qualquer obra sobre assassinos em série (gosto de ler sobre perfis desses seres tão ameaçadores e de personalidades perturbadoras), mas é frustrante saber que James Vlassakis não ganhou um filme que retratasse com coesão sua história.

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