quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A Mulher sem Cabeça


Verónica está dirigindo em uma estrada deserta quando sente que atropelou algo, mas segue em frente sem conferir o que aconteceu. O problema é que ela não consegue tirar o fato da cabeça e, pouco a pouco, se convence de que matou alguém. Quando ela revela a seu marido o que a atormenta, eles retornam ao local e nada encontram. Ainda assim, ela não consegue se livrar da certeza de ter cometido um crime. Selecionado para o Festival de Cannes 2008.

Este é o terceiro longa de Lucrecia Martel, embora ela tenha o currículo engordado por alguns curtas e trabalhos para a TV. E é impressionante a fama que a diretora argentina alcançou com apenas dois filmes, O Pântano (2001) e A Menina Santa (2004). também chama a atenção sua maturidade artística, expressa em filmes originais e plenos de significados ocultos – Lucrecia também é roteirista de seus longas.

Considerando isso, creio que A Mulher sem Cabeça seria melhor apreciado não fosse a alta expectativa por se tratar de um longa de uma cineasta já consagrada. Claro que está longe de ser um filme ruim; pelo contrário, tem momentos em que a direção de atores cria imagens quase sublimes. Mas, como um todo, não me causou uma impressão tão forte quanto os dois filmes anteriores de Martel. A relação familiar entre as personagens é solta, pouco definida. O roteiro, ao se alinhar com a sensação de alienamento que ataca a protagonista, por vezes parece se alienar do espectador também. O filme é todo uma viagem interior de Verónica, que certamente não sente aquela necessidade de se auto-punir apenas por causa da impressão de ter atropelado alguém.

O destaque é María Onetto, que interpreta Verónica. A atriz, que tem um tipo que lembra a grande dama do cinema espanhol Marisa Paredes, consegue transmitir todo um leque de emoções com uma economia de gestos e expressões que é fascinante. Outra curiosidade é Inés Efrón, revelada como a hermafrodita de XXY, em outro papel andrógino.

A Mulher sem Cabeça (La Mujer sin Cabeza), de Lucrecia Martel. Com María Onetto, Claudia Cantero, Inés Efrón, Daniel Genoud. Argentina / Espanha / França / Itália, 2008. 87min.

Première Latina

Nota: 6,5

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