quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sereia


Alisa é uma garota cheia de imaginação, que mora numa cidadezinha litorânea com a mãe e a avó e está convencida de ter o poder de transformar desejos em realidade. Aos seis anos, ela resolve parar de falar e é transferida para uma escola especial. Aos dezessete, a família se muda para Moscou e a descoberta do primeiro amor faz com que ela volte a se comunicar. Filme vencedor do prêmio de melhor direção na categoria World Cinema do Festival de Sundance deste ano.

Um filme muito imaginativo e nada convencional, com uma linguagem bastante onírica. Alternando poesia, humor e muita bizarrice, Sereia é todo pautado pela ótica da protagonista. Ela é doce e meiga, mas também possuidora de uma determinação homicida que só não chega a chocar por conta do tom de fábula da história. Destaque para o modo como ela consegue classificação para um curso. Aliás, um curso ao qual ela nunca vai e que nunca ficamos sabendo do que se trata. Mas não tem importância, também. O que vale é a relação da garota com seus sonhos. Alguns conceitos visuais tiram grande efeito de idéias aparentemente simples, como as brincadeiras referentes ao painel publicitário que cobre um dos lados do prédio de Alisa.

Alisa, interpretada pela excelente e exótica Masha Shalaeva, é uma espécie de Amélie Poulain mais psicodélica, uma personagem com um mundo interior tão particular e tão convicta de suas próprias fantasias que seu comportamento beira o autismo. E o filme é como uma obra de arte plástica: não adianta ficar explicando muito. É para ver, sentir e se identificar. Ou não. Porque isso vai depender muito do grau de aceitação do espectador perante sua linguagem, muito próxima do teatro do absurdo. Isso pode afastar alguns, mas certamente vai encantar outros. E conseguir navegar pelo não-convencional sem parecer pretensioso ou hermético é sempre um ponto positivo.

Sereia é o segundo longa da diretora Anna Melikyan, que também assina o roteiro. Ainda não é aquele filme que eu classificaria de grande destaque do Festival, mas até agora foi o que mais se aproximou disso.

Sereia (Rusalka), de Anna Melikyan. Com Masha Shalaeva, Yevgeniy Tsyganov, Maria Sokova. Rússia, 2007. 115min.

Mostra Expectativa

Nota: 8,0

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