segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Os Desafinados


Após uma inexplicável defasagem de três anos, chega aos cinemas Os Desafinados, novo longa de Walter Lima Jr. O cineasta andava meio sumido desde A Ostra e o Vento (1997), tendo feito nesse hiato de tempo alguns trabalhos esparsos para a TV. Mas a espera acabou tendo seu charme, já que fez com que Os Desafinados estreasse justo neste ano em que comemoramos os cinqüenta anos da bossa nova.

O título do filme se refere ao nome da banda formada por quatro amigos que, sonhando tocar no Carnegie Hall, se aventuram a tentar a sorte em Nova Iorque. Joaquim (Rodrigo Santoro) deixa a esposa grávida no Brasil; Davi (Angelo Paes Leme) é seu melhor amigo e parceiro em uma canção vendida para um produtor americano; Paulo Cesar (André Moraes) é filho de um militar que não vê com bons olhos suas aspirações artísticas; e Geraldo está cansado de seu trabalho no aeroporto. O quinto elemento da trupe é Dico (Selton Mello), um aspirante a cineasta louco para curtir a cidade e, de quebra, filmar os amigos com a câmera que pretende comprar. Uma vez na América, os rapazes buscam uma oportunidade ao mesmo tempo em que Joaquim se apaixona por Glória, uma cantora brasileira que se junta ao grupo.

Os Desafinados tem duas metades bem distintas: na primeira, tudo é sonho e poesia. Música, inocência, esperança e, sobretudo, leveza. Como não acreditar que tudo na vida vai dar certo ao som melodioso da bossa nova e tendo cenários como o Central Park embalando um lindo romance? Neste primeiro segmento, mesmo quando surgem problemas, eles parecem diminutos diante do otimismo reinante. E o personagem Joaquim é o maior exemplo disso, já que o rapaz parece apagar da sua mente o fato de que deixou uma esposa grávida no Brasil. Como se o romance com Glória estivesse acontecendo com outra pessoa, distinta do sujeito responsável que ele era no Brasil.

Depois de algum tempo, a saudade e problemas com a imigração trazem os desafinados de volta para casa. E o contraste não poderia ser mais brutal, já que os amigos voltam para um país que acaba de cair nas garras da ditadura. A partir desse momento, o filme muda radicalmente de tom. Acabam as tardes musicais e os romances inconseqüentes, é hora de encarar os problemas de frente. O novo clima é destacado principalmente através de Dico, que, a essa altura, se tornou um visionário a la Glauber Rocha. Também Joaquim não pode mais viver na terra do nunca, tendo agora Glória e sua esposa Luiza tão próximas uma da outra.


O maior trunfo de Os Desafinados é o excelente rendimento de todo o elenco, com destaque especial para a atuação luminosa de Rodrigo Santoro. Não só pelo fato de ter aprendido em tempo recorde a “enganar” no piano, gaita e violão – além de ser uma graça cantando –, mas pela emoção que passa atuando mesmo. Cláudia Abreu faz boa parceria com ele, mesmo tendo sido dublada pela cantora Branca Lima (filha do diretor) nas canções – o que, dizem, deixou a atriz chateada. Selton Mello empresta seu carisma habitual a um personagem que é responsável por grande parte do humor do longa com suas tiradas rápidas e debochadas, enquanto Angelo Paes Leme prova o quanto vem amadurecendo artisticamente nos últimos anos. Jair de Oliveira e André Moraes seguram bem a onda de atuar ao lado de atores bem mais experiente. Do time veterano, há que destacar como Arthur Kohl (o Dico do presente) conseguiu reproduzir com perfeição todo o gestual e modo de falar de Selton Mello. Impressionante.

O filme, como um todo, é bastante agradável e mantém o interesse do espectador, embora o ritmo caia um pouco lá pela metade (antes do retorno ao Brasil) e algumas passagens pareçam forçadas, como, por exemplo, o surgimento de um determinado personagem na última cena do filme. Mas nada que chegue a comprometer o resultado final.

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