sábado, 20 de setembro de 2008

Gomorra


O filme faz um painel das atividades da Camorra, tradicional máfia napolitana que comanda, de uma forma ou outra, a vida dos moradores da região. Dentre eles, um garoto de treze anos que é mensageiro de uma facção que trafica drogas e armas; um alfaiate que se arrisca ao aceitar a proposta de um chinês, rival de seu patrão, para ensinar secretamente seus operários; um guarda-costas novato que questiona se tem estômago para esse trabalho; um homem que é responsável por dar dinheiro aos parentes dos que foram presos ou mortos; dois adolescentes que desafiam as regras locais e querem levar uma vida de crimes por conta própria.

Gomorra foi o vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano, o que eu considero inexplicável. Claro que o filme tem suas qualidades, mas não é para tanto. Mesmo porque acredito que os pontos altos do longa sejam mais de ordem sociológica do que cinematográfica. É muito interessante, até mesmo chocante, descobrir essa classe de criminosos italianos totalmente diversa da versão elegante de máfia a que o espectador está acostumado. E o que dizer das construções decadentes, verdadeiras “cabeças-de-porco”, que servem de locações? É uma nova visão da máfia, sem os tradicionais capos vestidos em Armani.

Por outro lado, o filme em si apresenta uma trama dispersa e mal-alinhavada. Ao tentar abarcar muitos personagens e situações ao mesmo tempo, o roteiro falha em construir um mínimo de encadeamento entre eles. Além do problema dos vários núcleos soltos, também o relacionamento entre personagens que se conhecem é mal definido. Um exemplo disso é a personagem Maria e seu filho, cujo parentesco tem que ser deduzido através de duas cenas isoladas. OK. A intenção do diretor certamente é dar uma visão ampla do assunto. Como reportagem seria perfeito. Como filme, nem tanto.

Gomorra (idem), de Matteo Garrone. Com Salvatore Cantalupo, Gianfelice Imparato, Maria Nazionale, Toni Servillo. Itália, 2008. 135min.

Mostra Panorama

Nota: 5,0

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