sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sanguepazzo


O filme conta o trágico destino de Osvaldo Valenti e Luisa Ferida, famoso casal de atores executado pelas forças de libertação no fim da Segunda Guerra. Apesar de não serem a princípio envolvidos com política, Osvaldo e Luisa foram sendo identificados cada vez mais com o regime fascista por conta do estilo de filmes pró-regime que faziam e das pessoas com as quais andavam. Mesmo sem nenhuma prova concreta, o casal foi executado em abril de 1945 como uma punição exemplar para os colaboracionistas.

O filme, exibido no Festival de Cannes deste ano, segue duas abordagens distintas: o cenário histórico e político de um país mergulhado no autoritarismo e na guerra e a história do relacionamento destrutivo que unia os dois personagens principais. Uma desastrada união que prejudicou principalmente Luisa, arrastada para acordos escusos e companhias duvidosas pelos vícios de Osvaldo. A personagem, como muitas mulheres, poderia ter escolhido qualquer um. Mas a bela foi se encantar justamente com a fera.

O interesse que o filme desperta como relato histórico vai além da política: também é um fascinante retrato do cinema italiano da época, tendo até algumas referências bem diretas, como quando um personagem menciona o filme que Roberto Rosselini está rodando (Roma, Cidade Aberta). Outra cena memorável é quando Osvaldo está filmando Ricardo III e grita a famosa fala “meu reino por um cavalo!” da maneira mais canastrona possível. Na vida real, o casal fez dezenas de filmes durante os anos de guerra. Aproveitaram-se da ocasião sim, mas daí a serem considerados pessoas de alta periculosidade vai uma grande diferença.

Luca Zingaretti está muito bem como Osvaldo Valenti, um sujeito falastrão e animado na mesma medida em que se afundava na depressão causada pelas drogas ou pela abstinência delas. Um personagem que deveria ser antipático, mas que o ator consegue dotar de uma dose de carisma. Destaque para a cena em que ele resolve confrontar no set a atriz de quinta que é amante de um alto político. Já Monica Bellucci está belíssima como sempre. O que é um paradoxo, já que sua beleza é tão excessiva que sempre acaba por submergir a boa atriz que ela também é.

O diretor Marco Tullio Giordana teve um filme mostrado no Festival do Rio de 2005, Quando Sei Nato Non Puoi Più Nasconderti, um drama sobre um garoto de classe média italiano e sua amizade com dois adolescentes romenos. Com Sanguepazzo, Giordana parte para um patamar mais ambicioso e se sai muito bem na missão. O único ponto fraco do filme é pesar a mão demais no melodrama em determinadas cenas, em especial as que se passam no cativeiro e também em algumas brigas do casal. Mas tudo bem, não chega a soar apelativo. Afinal de contas, eles eram italianos.

Sanguepazzo (idem), de Marco Tullio Giordana. Com Monica Bellucci, Luca Zingaretti, Alessio Boni, Maurizio Donadoni. Itália / França, 2008. 148min.

Mostra Panorama

Nota: 8,0

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