quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Soi Cowboy


A jovem Koi se considera uma privilegiada por ter conhecido Toby, um europeu que a tirou da zona de meretrício da cidade – a Soi Cowboy do título. Agora ela está grávida e faz planos de casamento. O único problema é a incompatibilidade sexual, que faz com que as relações sejam um suplício para ela. Exibido no Festival de Cannes 2008.

O filme, em preto-e-branco, começa com ares de ultra-realismo, mostrando a rotina e a incomunicabilidade entre o casal. Embora seja evidente o carinho de Toby por Koi, ele também parece um pouco exasperado pelo temperamento tranqüilo da garota. Já ela tenta por todas as maneiras evitá-lo na cama, e chora silenciosamente quando não o consegue. Um clima sufocante, realçado pelo fato do primeiro diálogo do longa acontecer após vinte minutos de projeção. Algumas cenas se desenrolam em tempo real, mostrando a angústia silenciosa de dois solitários que preferem aquilo ao abandono. Claro que ritmo narrativo não é o forte do filme, que se detém em tomadas inexplicáveis como, por exemplo, um longo close de uma torradeira. Mas, apesar disso, o filme cria uma certa expectativa.

Passa-se uma hora e meia de filme. Toby e Koi continuam coexistindo, agora passando alguns dias a passeio em uma cidadezinha turística tailandesa. Descobrimos um pouco mais sobre cada um. Ela teme que ele não cumpra sua promessa de casamento, o que significaria voltar aos tempos de necessidade. Ele tem negócios que controla por telefone que não sabemos exatamente quais são.

É quando, do nada, aparecem imagens coloridas na tela. Chega a doer os olhos, depois de tanto tempo de P&B. E eis que a meia hora final do longa apresenta uma trama de mafiosos que não tem absolutamente nada a ver com a história a que estávamos assistindo. Embora o foco agora seja outro, Koi e Toby também estão presentes. Só que não parecem ser os mesmos personagens. O que seria esse trecho final? Flashback? Realidade alternativa? A matrix tailandesa?

O filme ainda é o responsável por uma das seqüências mais esquizofrênicas desse Festival (ainda em sua porção neo-realista). Toby e Koi entram em um elevador. Logo em seguida, surge uma velhinha se locomovendo em um andador. Chegando em seu andar, ela sai e a câmera abandona os protagonistas para segui-la por um extenso corredor escuro. E os espectadores ficam vários minutos olhando a velhinha (que não aparece mais na história) arrastando o andador lentamente. E quando chega ao fim do corredor... ela dá meia-volta! Eu estou certa de que o diretor tinha uma metáfora genial em mente, pena que só ele sacou.

Soi Cowboy (idem), de Thomas Clay. Com Nicolas Bro, Pimwalee Thampanyasan, Petch Mekoh, Natee Srimanta. Tailândia / Reino Unido, 2008. 117min.

Foco UK

Nota: 3,0

Um comentário:

  1. Eu vi este filme agora na Mostra Internacional de Cinema (que está acontecendo em São Paulo). Realmente, saí da sala com várias interrogações na cabeça e me perguntando o que era aquele final. Pra falar a verdade, o que é esse filme? A seqüência da velhinha no corredor me fez rir. Gostei muito mais da primeira parte que focava o casal. Mas de um modo geral,(tirando alguns excessos)achei bom.
    Sandra

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