segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sombras de Goya


Chega esta semana às locadoras Sombras de Goya, filme que passou meio despercebido quando esteve em circuito no final do ano passado. Provavelmente porque não foi uma decisão das mais sábias colocar um longa tão sombrio nos cinemas em meio às festas de fim de ano. Fazer o quê? Nessa época do ano, mais do que em qualquer outra, as pessoas querem acreditar que o mundo é um lugar feliz.

O filme retrata um período de cerca de quinze anos do início do século XIX, desde o radicalismo da Inquisição espanhola até a conquista do país pelas tropas de Napoleão e a posterior invasão britânica. Em meio às turbulências políticas e religiosas, o genial pintor Francisco de Goya serve de fio condutor da história. Primeiro quando uma de suas musas, a jovem Inés, é presa e torturada sob uma falsa acusação de heresia. Posteriormente o rígido Frei Lorenzo, também retratado pelo pintor, passa de algoz a perseguido. E Goya, observador atento de seu tempo, retrata em suas gravuras e quadros os horrores da guerra, a brutalidade da Inquisição e, principalmente, os fantasmas que o atormentam.

Um belo filme, ainda que salpicado de deficiências. Dois defeitos se sobressaem: em primeiro lugar, o título induz a um erro. A trama não é centrada na biografia e trajetória de Goya, ele é apenas uma espécie de narrador (ou testemunha) dos fatos. O segundo – e mais grave – é o fato do roteiro, ao tentar abranger um período repleto de reviravoltas políticas, acabar expondo-as na tela com uma rapidez que desnorteia o espectador e quebra bastante a narrativa. Como se os personagens fossem deixados de lado por um tempo para situar os inúmeros acontecimentos sociais e políticos.

Mas tais falhas não chegam a desmerecer o filme, dirigido com competência por Milos Forman e belamente interpretado pelo elenco – com destaque para Javier Bardem. Sombras de Goya também merece aplausos por familiarizar a platéia com algumas das grandes obras da época. Não apenas as de Goya, mas também as de outros pintores importantes como O Jardim das Delícias, de Bosch, e As Meninas, de Velasquéz. Sem contar que uma das melhores seqüências do filme mostra passo-a-passo o processo de confecção de uma gravura. Fascinante.

2 comentários:

  1. Javier Bardem é meu novo ídolo cinematográfico!!!

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  2. Dá vontade de esmurrar o Javier/frei Lorenzo nesse filme - Claro que eu gosto do ator. O curioso é a mudança de lado, de acordo com as circunstâncias. Os inquisidores ora estão no poder, dando as cartas e queimando/torturando, ora estão eles próprios no lugar antes ocupado por suas vítimas. Pelo menos, na ficção nós espectadores podemos nos vingar. O título engana mesmo. Algum desavisado pode pensar que se trata de filme de terror!! Interessante Natalie Portman, sendo judia, interpretar uma católica no filme e, na maior inocência, dizer aos inquisidores que ela não aceitou um pedaço de porco, na taverna, porque não gostava de porco! Coitada. Se soubesse o que estava por vir... As reviravoltas no roteiro com certeza nos deixam confusos. Pra quem desconhece História, é complicado. De qualquer forma, é um filmaço. Ajuda bastante o fato de gostarmos do assunto - Revolução Francesa, Inquisição, Artes Plásticas. As cenas do processo de feitura das telas de Goya são fascinantes.

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